Todo mundo da minha geração e anteriores foi criança e chegou a ver os Super-Amigos, aquela galhofa de Hannah-Barbera reunindo heróis da DC e outros heróis da TV. É claro que desde as animações de Bruce Timm como Liga da Justiça, pudemos ver como tudo podia ser levado a sério e esquecemos de como era divertido quando a proposta era realmente a diversão que podia ser competente ao orçamento. Muitos esquecem que na TV, existe uma limitação muito maior do que o cinema e ainda assim comparam, mas sinto dizer que, com o orçamento que o cinema tem, não deve-se esperar uma produção mediana, já no caso de Crise na Terra-X, o evento que reuniu dezenas de personagens super poderosos do universo DC TV, com o orçamento que a CW Television recebe, e entregou uma produção acima do esperado, é sim, um acerto! E aliás, muito parecido com um episódio de Liga da Justiça Sem Limites.
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Crise na Terra-X é o quarto crossover do Arrowverso iniciado em 2011. Considera-se crossover apenas quando um episódio inicia-se em uma série e termina em outra, diferente de quando simplesmente os personagens fazem participações especiais na série, o que é bem comum até. De longe, o crossover deste ano foi o melhor até agora, talvez podendo comparar em qualidade apenas com o de 2015, Legends, que serviu de piloto para o seriado Legends of Tomorrow. Novamente vemos os personagens das séries Supergirl, Arrow, Flash e Legends of Tomorrow reunidos, cada um com maior tempo de tela que outro, é claro, por conta do cachê, o que acaba deixando alguns furos e ausência de explicação como – Por que personagens tão importantes para o casal Barry Allen (Grant Gustin) e Iris West (Candice Patton) – como John Diggle (David Ramsey) e o Átomo, Ray Palmer (Brandon Routh) que só aparecem na Parte 4 – não foram convidados para seu casamento na Parte 1 enquanto outros nem tão importantes estavam lá? – como o Onda Térmica, Mick Rory (Dominic Purcell). Além de acabar esticando demais a participação de personagens quase inúteis para a trama como a própria Iris e Felicity Smoak (Emily Bett Rickards), que apenas serviram por terem sido descartáveis para os vilões.
Este artigo contém spoilers – revelações de enredo.
Mas a enrolação é esquecida quando dá lugar a diversão e ação, e isto entregaram muito bem. Nunca antes havia sido visto numa produção para TV tamanha sequência de efeitos especiais e coreografia de batalha – dou destaque para um plano-sequência a la Vingadores enquanto o super-grupo de heróis enfrentava suas contrapartes da Terra-X de baixo de um viaduto e é de fato impressionantemente bem feito. Bem construída também foi a trama que soube amarrar os demais personagens sem parecer forçado como foi o último crossover, Invasion, e soube explicar bem a origem da Terra-X, apesar de deixar alguns questionamentos – diz-se que a Terra-X é como se fosse uma 53ª Terra, ao contrário dos quadrinhos onde a Terra-X é a 10ª, além de que na segunda temporada de Flash, Harrisson Wells (Tom Cavanagh) afirma que o número de Terras pode ser infinito, mas agora o mesmo diz que trata-se de apenas 52, dando a entender que a 53ª não existia antes e surgiu após intervenção no passado realizada pelo Flash-Reverso Eobard Thawne – que sim, está vivo e usa o rosto de Harry, e inclusive é motivo de piada, mas até isto tem mais explicação – quando Thawne foi morto pelo Flash Negro no Season Finale de Legends of Tomorrow e todos os seus vestígios do tempo foram apagados, não interviu na Terra-X, onde Thawne já comparecia, tal como o Flashpoint não interviu na Terra-2.
Saiba tudo sobre a Terra-X dos quadrinhos da DC como este vídeo do canal Tentáculo.
Além de trazer o personagem de volta, trouxe de volta alguns outros personagens que haviam sido mortos anteriormente por conta de conflitos de agenda dos atores e com a desculpa que há muito tempo queríamos – é claro, se alguém morre na Terra-1, volta em forma de sua contraparte da outra Terra. Foi o caso da Laurel Lance (Katie Cassidy) que retornou como a Sereia Negra e Ronnie Raymond (Robbie Amell) como o Núcleo Mortal na Terra-2 em 2015, mas agora, tivemos de volta o tão esperado Tommy Merlyn (Collin Donnel) como o vilão tão prometido Prometheus, que era a pretensão original da produção anos atrás, mas somente como participação especial, por conflitos de agenda, além de Leonard Snart (Wentworth Miller) como o Cidadão Frio, que deveria ter aparecido durante o Flashpoint e agora vem como sua contraparte da Terra-X. Da Terra-X também foi introduzido um outro herói, o meta-humano Ray Terril (Russel Tovery), capaz de transformar luz em energia.
E por falar em questões de agenda, nos despedimos de um personagem muito importante que foi o Dr. Martin Stein (Victor Garber), que teve um final até inesperado – mesmo com tudo indicando que perderíamos o coroa, ainda esperava que fosse ter uma reviravolta. E mesmo com a fraca atuação de Jefferson Jackson (Franz Drameh), pudemos nos emocionar com suas palavras e a construção que foi dada para seu fim fazer sentido. Com trama emocionante, alguns baixos, porém mais altos, Crise na Terra-X foi até hoje o que a DC já fez de melhor na TV.