Vocês já estão acostumados a me ver pegando no pé da Marvel, e atualmente nem só da Marvel, porque a DC andou dando as vaciladas dela também, mas eu sempre defendi a DC por seu roteiro maduro, menos infantil, tratando de questões complexas sem subestimar da inteligência do espectador, enquanto nos filmes da Marvel – ao contrário dos quadrinhos que os inspiraram que tratavam desses assuntos – buscava-se somente o entretenimento e o divertimento passageiro, deixando de lado o que fazia seus personagens serem tão interessantes – vide o recente Homem-Aranha: De Volta ao Lar que praticamente esqueceu que o Peter Parker é um sujeito pobre.
Este artigo está livre de spoilers – sem revelações de enredo.
Mas parece que a Marvel Studios finalmente amadureceu, – ou não, pode ser passageiro também – com Pantera Negra, vemos um super-herói africano como protagonista, trabalhando questões sobre a segregação racial e ainda expandindo o universo Marvel, tudo isso sem ficar forçado ou cansativo. Ryan Coogler inicia seu filme contando-nos a origem mais antiga estabelecida no Universo Cinemático Marvel até agora – a origem do ser humano no coração da África. Muito antes da humanidade se quer sonhar em existir, provavelmente coincidindo com a extinção dos dinossauros, um meteoro colidiu com a Terra trazendo o metal hoje conhecido como Vibranium – para quem não sabe, é de Vibranium que é feito o escudo do Capitão América, a armadura final do Ultron e o manto do Pantera Negra. O evento gerou um cataclismo que alterou a natureza daquele lugar, criando elementos que compõe um super-herói e a vida humana na Terra, além da nação mais antiga e fantástica do mundo. Todos os mitos de El Dorado, Cidade Z, ou até mesmo do Jardim do Éden, entre outros, sobre uma antiga cidade-paraíso escondida com o maior tesouro da humanidade, referia-se a esta memória que o mundo tinha desta nação, chamada Wakanda, que desenvolveu-se, mas preferiu ocultar-se, expulsando os homens maus e ambiciosos, e tornando-se uma nação de paz e próspera – mas será que é assim mesmo?
O filme divide o protagonismo de um lado com o Príncipe T’Challa, – Chadwick Boseman, repetindo seu papel de Capitão América: Guerra Civil – que acaba de perder o pai e herdar o trono e o manto de Pantera Negra, o protetor de Wakanda, vendo-se a lidar com o momento mais crítico de sua nação, – lógico, a primeira vez em que há uma troca de reis de Wakanda num universo onde super-heróis existem e o mundo é invadido por alienígenas quase que todo ano, além de super-vilões que aproveitam-se de quaisquer oportunidades – se vê obrigado a lidar com o reaparecimento de Ulysses Klaw, – Andy Serkis, trazendo de volta seu personagem de Vingadores: A Era de Ultron e provando que também pode atuar sem computação gráfica cobrindo seu rosto e movimentos – um contrabandista do tesouro de Wakanda e que põe em risco a proteção da nação secreta. E de outro lado, Ulysses tem a ajuda de Erik Killmonger, – Michael B. Jordan, que vem só crescendo desde sua estreia em Poder Sem Limites – um jovem afro-americano obcecado por encontrar Wakanda e utilizar-se de seus recursos para enfim ajudar a raça negra espalhada e sofrendo perseguição mundo a fora.
A trama revela com sutileza o passado dos personagens, mas nenhum é tão envolvente quanto o do antagonista Killmonger, – que inclusive tem uma das melhores cenas iniciais de supervilão da Marvel, simplesmente reproduzindo uma situação em que muitos negros americanos devem passar toda semana – o que te deixa divido em certo ponto, caso as intenções do vilão não fossem tão radicais. A dualidade entre Erik e T’Challa lembra muito a clássica e bastante referenciada dualidade entre Martin Luther King Jr. e Malcolm X, com a diferença que os dois personagens históricos eram amigos. O filme também é muito bonito visualmente, com um bom uso das cores, não só se tratando de Wakanda, – que tem figurinos e arquiteturas muito interessantes e coloridas, que misturam a cultura africana com um toque de futurista – mas também dos cenários a fora, como a Coréia do Sul, onde ocorre uma das primeiras cenas de ação e serve somente para ligar a trama com os personagens americanos do elenco como o Agente Ross – Martin Freeman retornando seu papel de Capitão América: Guerra Civil.
Como é normal dos filmes da Marvel, não me chamou muita atenção a trilha sonora, e algumas animações de computação gráfica pareciam massinha de modelar, além da exigência padrão Disney de piadas em momentos tensos, mas que desta vez não me incomodaram. Pantera Negra traz uma história simples, não muito complexa, e nem precisava ser, apresentou-nos este maravilhoso novo universo e os maravilhosos novos personagens que já sabemos que terão importância em Vingadores: Guerra Infinita, e fez jus a necessidade de filmes de ação bem trabalhos com protagonismo negro. Que venha mais e mais!