Para quem curte séries antológicas como Black Mirror e Além da Imaginação, vai achar Electric Dreams um prato cheio. A série britânica, que estreou há algumas semanas, adapta contos do autor Philip K. Dick. Gostaria de falar dos dois primeiros episódios sem dar muitos spoilers porque a série é realmente fantástica, muito bem produzida e dirigida e toca em alguns temas bem interessantes. Antes de mais nada, preciso falar quem é Philip K. Dick, pois, se você não o conhece pelo nome, com certeza já assistiu algum filme baseado em suas obras, como Blade Runner, Minority Report e o Vingador do Futuro. Inclusive a série The man in the high castle, da Amazon, vem de um de seus contos também. O cara é top quando se trata de ficção científica, futuros alternativos ou até mesmo distópicos.
Dito isso, posso falar de Electric Dreams em si. A primeira temporada contará com 10 episódios e está sendo exibida pelo serviço de streaming Stan. O piloto (que se chama The Hood Maker) já apresenta de cara elementos presentes em outras obras dele, ou seja, é impossível você assistir e não falar “isso tem muita cara do Philip K. Dick!“. Imagina um mundo onde não exista tecnologia avançada, mas há telepatas mutantes e eles se tornam o único mecanismo da humanidade para a comunicação de longa distância. Mas seus poderes têm implicações não intencionais. Quando a população começa a inventar maneiras de bloquear os poderes do telepatas, dois detetives, que se unem de maneira não convencional, começam a investigar e tentam evitar que aconteça uma guerra.
O agente Ross (vivido por Richard Madden) e a telepata Honor (interpretada por Holliday Grainger) têm uma ótima química, até porque eles já atuaram juntos em Cinderela, de 2015. O episódio trata de assuntos bacanas de serem debatidos, como preconceito, invasão de privacidade, liberdade de expressão x ditadura, entre outros.
O segundo episódio se chama The impossible planet. Se no primeiro, eles retratam uma realidade sem tecnologia, nesse episódio a vida das pessoas gira em torno de uma tecnologia tão avançada que nos faz crer que aquilo se passa daqui há uns 300 anos, quando a Terra já foi completamente devastada devido a um “incêndio solar” catastrófico. Dois funcionários de uma agência de turismo espacial (interpretados por Jack Reynor e Benedict Wong) recebem um pedido de uma mulher surda e idosa (maravilhosamente bem interpretada por Geraldine Chaplin) para uma viagem de volta à Terra. A viagem até lá é impossível. No entanto, ela pode ser facilmente enganada e é muito rica, então, por que não ganhar uma grana e não estragar suas fantasias? À medida que a trama se desenrola, você vai percebendo que a coisa é meio agridoce.
Isso nos faz pensar, de certa forma, que, mesmo depois dos humanos terem degradado tanto o planeta, ainda sonhamos e pagamos caro para ver como ele era lindo. Nesse futuro distante, a senhora considera a Terra um dos melhores lugares do universo, mesmo ela podendo ir pra qualquer lugar. Uma crítica à nossa sociedade, que tanto destroi a natureza, não é verdade? Fora o dilema entre ser honesto ou dar um golpe. E, por fim, temos um desfecho realmente lindo.
Trilha sonora, cenários, figurinos, maquiagem e efeitos especiais nota 10, não devendo em absolutamente nada os filmes hollywoodianos. E espero, sinceramente, que os próximos episódios continuem mantendo o nível alto, inclusive os temas abordados, que são tão bons de debater. Black Mirror se tornou fichinha do lado de Electric Dreams, na boa…
Nota: 5/5