Eu não li o livro Jogador Número 1 (de Ernest Cline, 2011), mas entendo perfeitamente porque Steven Spielberg se interessou por sua trama e produziu um sci-fi futurista e nostálgico ao mesmo tempo, explorando um mocinho simpático que se tornou um herói em uma história atraente, tudo com um visual e uma trilha sonora simplesmente fantásticos. Só de assistir ao trailer, já dava pra saber que seria um dos maiores blockbusters do ano. E só de saber que ele tinha lançado anteriormente um filme a la Oscar (The Post), seu próximo passo seria uma aventura para o grande público (ele sempre intercala, analise depois sua filmografia). Ainda bem que ele chamou o próprio Ernest Cline para ajudar no roteiro, por isso acho que deu tão certo.
Neste longa, conhecemos um futuro distópico. A humanidade falhou miseravelmente e, em 2045, o que as pessoas mais desejam na vida é fugir da pobre realidade e mergulhar no universo do Oasis, um imenso mundo virtual que lhe possibilita ir a qualquer lugar, fazer e ser quem quiser. Assim como a maior parte da população, lá está nosso mocinho, Parzival/Wade Watts (Tye Sheridan, o Ciclope dos novos X Men), um adolescente fanático pelo falecido James Halliday (Mark Rylance), criador do Oasis. Antes de morrer, ele idealizou um torneio para que encontrassem três chaves, que dariam direito à toda a sua fortuna e ao controle da sua empresa. Mas, os desafios eram muito difíceis, embora fosse o maior sonho de Wade.
O ritmo do filme é quase o mesmo de um jogo, algo que te deixa quase sem fôlego. E ainda há tempo para inserir um caso romântico. Esse sim bem atual, introduzindo o famoso catfishing, um problema do nosso tempo. Normal, pois, se as pessoas passam a maior parte do tempo em outra realidade e montam seu avatar como bem entendem, obviamente o que não gostam em si mesmas ficam disfarçadas no mundo virtual. Outra característica curiosa (bem Black Mirror, na verdade) é a biblioteca que torna possível acessar toda a vida de James Halliday, que catalogou tudo MESMO. E como ter acesso às fases de sua vida, filmes e músicas favoritas, entre outros detalhes, é o auge da fetichização da memória (por isso citei Black Mirror, tem um episódio nessa vibe. Pra quem quiser assistir: S01E03).
Todo mundo sabe que ele se tornará o jogador número 1 (isso não é spoiler, gente. Filmes do Spielberg nesse estilo são clichês mesmo), mas eu não vou contar como. Só enalteço aqui o elenco composto por atores ótimos, que fazem os jogadores amigos de Wade: Artemis (Olivia Cooke, de Bates Motel), Aech (Lena Waithe, de Master of None), Sho (Philip Zhao, estreante no cinema, mas que talento! Me arrancou risadas) e Daito (Win Morisaki). Só para deixar claro que as interpretações não são dignas de Oscar (até porque, em mais da metade do filme, eles estão em seus avatares, em um dos melhores CGIs da atualidade), mas para o que se propõe, que é entretenimento puro, vale muito o ingresso. E, como o vilão, temos o maravilhoso Ben Mendelsohn (de Rogue One) interpretando o empresário sem escrúpulos Nolan Sorrento, que só quer lucro.
Trilha sonora: preciso citar os maravilhosos sucessos das décadas de 80 e 90 (Duran Duran, Depeche Mode, A-ha… Ok, já vimos isso em Guardiões da Galáxia, mas eu me amarro) e contrastam com o visual altamente tecnológico (isso é tão Spielberg). Mais as composições animadas de Alan Silvestri (que, neste caso, acho que combinam mais que as notas mais clássicas e românticas de John Williams). Efeitos visuais e sonoros: o filme é grandioso de verdade e vale ser assistido em salas 3D, IMAX, com todos os Xplus e 4DX que os cinéfilos têm direito.
Resumindo, o filme é um orgasmo nerd, gamer, geek, ou qualquer outra denominação do gênero, com um zilhão de referências ao universo pop, recente e antigo (fãs de tokusatsu, Atari e O Iluminado então, terão orgasmos múltiplos). E o auge é quando Spielberg ainda enfia um de seus dinossauros na história, é simplesmente demais!
Nota: 5/5