Existem verdadeiras obras de arte no cinema quando se trata de longas biográficos e já entra para o meu top 10 a estreia da semana, O Destino de uma Nação, que seguramente estará indicada a várias categorias do Oscar desse ano. Inclusive, arrisco dizer que Gary Oldman praticamente já ganhou a estatueta de melhor ator por sua incrível atuação – aliás, sua caracterização também merece destaque, pois ele está irreconhecível. Lembrando que ele ganhou o Globo de Ouro de melhor ator de drama por este papel.
No filme, ele vive Winston Churchill, um político britânico que é nomeado a primeiro-ministro em um período conturbado da Segunda Guerra Mundial, quando Hitler dominava a França. Milhares de soldados britânicos ficaram presos na praia de Dunkirk e alguns deles foram resgatados por barcos civis. Esse trecho da história foi retratado recentemente no longa de Christopher Nolan – se quiser ler a minha crítica está aqui. Engraçado como dois filmes aparentemente nada a ver em sua forma e execução, ainda assim podem ser complementares. Juro que fiquei com vontade de rever Dunkirk. E pelo fato do roteiro ser todo trabalhado para dar destaque a Oldman, o resto do elenco acaba ficando em segundo plano, mas isso não significa que as interpretações sejam ruins, pelo contrário. As mulheres mais próximas de Churchill, sua esposa – Kristin Scott Thomas – e sua secretária – Lily James – são carismáticas e possuem relações bem humanas com o protagonista. Se no início do filme você o vê como um velho metódico, exigente e turrão, no fim você já enxerga sua gentileza e compaixão. A cena do metrô, uma das melhores do filme, retrata bem isso.
Ben Mendelsohn está na pele do Rei George VI e Stephen Dillane atua como o Visconde Halifax. Os dois políticos são os que mais se envolvem com Churchill na trama e ambos têm os seus momentos. O longa é dirigido por Joe Wright, já conhecido por outros filmes britânicos de classe – como Orgulho & Preconceito e Desejo e Reparação. É um thriller político com diálogos bem intensos e, se você acha que o filme pode ser monótono, está enganado. Em alguns momentos chega a ser leve e engraçado, o roteiro é bem equilibrado. E, tecnicamente falando, o filme é impecável. Trilha emocionante, iluminação marcante – aquele vermelho que enche a cena do pronunciamento no rádio me chamou a atenção, ângulos de câmera e edição que ajudam a dar o tom da história e são bem singulares, cenários e figurinos lindíssimos. É realmente grandioso e impressionante. E, no fim das contas, a mensagem que fica é que não se deve nunca negociar com fascistas. Afinal, seu partido queria que fosse feito um acordo de paz com alguém que não respeita as diferenças, como Hitler fazia. Jamais. Vale muito a pena ser conferido no cinema. É de aplaudir de pé.
Só uma observação curiosa, na verdade uma incrível coincidência – Gary Oldman é o sexto ator do universo de Harry Potter a representar Winston Churchill após Michael Gambon – Alvo Dumbledore – em Churchill’s Secret (2016), Timothy Spall – Pedro Pettigrew – em O Discurso do Rei (2010), Brendan Gleeson – Olho-Tonto Moody – em Tempos de Tormenta (2009), David Ryall – Elphias Doge – em Bertie e Elizabeth (2002), Two MenWent to War (2002) e Le grand Charles (2006) e Robert Hardy – Cornélio Fudge – várias vezes, começando com Winston Churchill: The Wilderness Years(1981) e incluindo War and Remembrance (1988) e Bomber Harris (1989).