No dia 7 de setembro chega aos cinemas brasileiros o longa ” Uma Mulher Fantástica“, do diretor chileno Sebastián Lelio. O filme retrata a história de Marina, uma mulher transexual que tem a delicada estabilidade de sua vida balançada após a morte de seu então companheiro, Orlando ( Francisco Reyes ). O espectador é apresentado de forma forte e sutil, sem exageros, aos problemas enfrentados pela personagem principal.
O primeiro ponto extremamente positivo acerca do filme é o fato de que Marina é interpretada pela talentosa Daniela Vega, também mulher transexual. Esse fator traz uma veracidade inquestionável para a construção não somente da personagem, mas como de todos os aspectos sociais que o filme se propõe a abardar. O outro ponto que pode ser levantado é justamente a abordagem de fatores sociais da sociedade chilena acerca da questão transexual.
O ponto de partida da narrativa encontra-se dentro de um núcleo limitado, a família do companheiro de Marina. No entanto, ela é apenas um recurso para mostrar as dificuldades e preconceitos que uma pessoa transexual pode enfrentar em uma sociedade conservadora e que se recusa a aceitar a realidade trans tal como a chilena. Ao contrário do esperado, essa retratação não é feita de forma exagerada e nem apoiada em dramatização além do real, muito pelo contrário, é feita de forma sutil, objetiva, delicada e muito real. O grande pilar da narrativa é sem dúvida a interpretação de Daniela Vega, que domina cada cena com perfeição.
Entretanto, o filme ultrapassa a questão transexual e isso torna o filme ainda melhor. Há na tela uma mulher tentando superar a repentina morte de seu parceiro e aceitar o luto. As cenas em que a protagonista encontra-se buscando qualquer coisa que possa ainda manter a proximidade com seu amado são tocantes e despertam empatia, impossível não se emocionar com o processo de luto exposto na tela.
Nos aspectos mais técnicos do filme, há um retrato fascinante da cidade. São usados monumentos e construções não apenas para situar quem assiste, mas também como um recurso de paisagem muito interessante. As cores do filme são quentes, com um quê de neon, nada é apagado apesar da situação retratada. É tudo muito vivido, muito aceso, como se fosse uma mensagem de que a vida apesar de tudo continua.
A trilha sonora é bem construída, mas nada que realmente possa ser destacado ou de grande notoriedade. O que vale a pena falar é que a atriz é na verdade cantora lírica e que as cenas em que ela canta são reais e isso foi trazido para a narrativa de forma natural, já que Marina sonha em ser uma cantora reconhecida.
Sem dúvida é um filme fantástico, que conta a história de uma mulher fantástica, interpretada também por uma mulher fantástica.