Apesar de seguir uma receita infalível para ser indicado ao Oscar, The Post: A Guerra Secreta contém alguns deslizes que não o fazem ser o queridinho da Academia deste ano. Acho simplesmente uma oportunidade desperdiçada de Steven Spielberg, que dirige mais uma vez seu adorado Tom Hanks e a diva máxima Meryl Streep – que foi indicada à melhor atriz pela 21ª vez.
O tema é maravilhoso – conta o drama sobre um caso que marcou a política e o jornalismo dos EUA e eu, como jornalista, jamais perderia esta verdadeira batalha entre os grandes jornais Washington Post e The New York Times contra o governo americano – no caso, o presidente da época, Nixon. A imprensa teve acesso a alguns documentos que revelavam mentiras do governo sobre a guerra do Vietnã e a censura impedia que a mídia divulgasse. Foi aí que nasceu a liberdade de imprensa americana. Mas, a batalha hoje em dia anda um pouco difícil por conta do Trump. Ou seja, é um tema super atual.
O roteiro é bem amarrado e o jornalismo investigativo é retratado de maneira palpável. Na verdade, nem consigo imaginar como aquilo tudo deve ter sido difícil numa época sem internet, computadores e celulares. Dá pra perceber o estilo de roteiro de Josh Singer – o mesmo de Spotlight, também sobre jornalismo, mas aqui a história não parece tão empolgante. O elenco é maravilhoso – Matthew Rhys faz um agente bem The Americans. Bob Odenkirk e David Cross possuem momentos de destaque. E tem todo mundo que está em alta em Hollywood, como Michael Stuhlbarg – Me chame pelo seu nome – e Tracy Letts – Lady Bird. Meryl faz o possível, mas sabe quando você não consegue ter empatia com a personagem? Ela só me ganhou mais pro fim do filme. Ela herdou o Washington Post, era uma mulher, obviamente, que os homens não respeitavam. Então, sua evolução durante o filme até se tornar uma mulher mais segura de si é o foco do longa. De longe é a melhor atuação de Meryl, mas, como falei, ela faz o seu melhor.
E ainda deram para Sarah Paulson o papel da simpática e prestativa esposa de Ben Bradlee – Tom Hanks. Nem achei que fosse necessário, porque ela é tão boa e o papel é tão esquecível. Desperdício de talento. Aliás, preciso destacar o quanto Tom Hanks está péssimo nesse filme. Superestimado demais e está sempre com a mesma cara de bunda. Um dos pontos fracos do filme, com certeza. Mas, tecnicamente, é ótimo. Tem uns ângulos de câmera singulares e uma edição que te prende. Afinal, você quer ver como aquilo tudo vai terminar – mesmo já sabendo, mas quer entender a visão do Spielberg sobre o assunto. E, por fim, você fica até com uma pontinha de esperança de que temos uma luz no fim do túnel na batalha em que vivemos: jornalistas do mundo inteiro ganhando de Trump. Quem sabe não lançam um longa em 2050 sobre isso? Seria interessante.