Hoje é o Dia internacional da Mulher, e para aquelas que estão no ambiente da cultura nerd, sabemos o quão toxico pode ser.
Precisamos nos provar o tempo todo – como tudo nessa vida – o quão conhecedoras somos sobre um assunto, seja ele filmes, jogos ou quadrinhos. Um levantamento de 2012 revela que 63% das jogadoras de jogos online já sofreram assédio durante uma partida. Em alguns casos, as jogadoras são obrigadas a ouvir comentários como Volta pra cozinha, volta!, Já terminou de lavar a louça? ou, então, Pega uma cerveja pra mim. Em outros, são vítimas de propostas indecentes e cantadas ofensivas. Por causa do assédio, 35% das jogadoras optaram por dar um tempo no joystick. Outras 9% tomaram uma decisão mais drástica: mudaram de hobby.
Ser mulher e gamer, dá?
Ser mulher e gamer, dá? questiona Alexia Salles, colaborada da Terra Nérdica há um ano. Já ouvi milhares de vezes que apenas jogo para chamar atenção de alguém. Já ouvi que mulher só joga mal. Já deixei de usar meu próprio nome para não descobrirem que eu era garota. E quando erro? A seguinte sentença é persistente – Ela é garota, você acha que ela sabe de alguma coisa? – O mundo gamer ainda possui uma grande onda de machismo, pelo o incrível que pareça. Temos personagens femininas incríveis como Lara Croft, Senua, Ellie, Wonder Woman e a lista é longa! Mas como pode a imagem feminina ser empoderada e ouvirmos coisas como essas? Uma área em que tem o intuito de divertir e entreter, acaba virando outro campo de preconceito.
Gosto bastante de ver o crescimento no número de mulheres gamers, por exemplo, antigamente encontrar mulheres em uma party no MMO era quase raro e hoje elas perderam o medo de usar nickname femininos e arrasarem – diz Jude Jacques. Temos que trazer mais mulheres que não conhecem a área por acharem que é algo masculino, fazer o videogame ser girl power também pra também acabar com esse preconceito que ocorre ainda até hoje. Sou desenvolvedora front end e no ensino médio participei de um curso de programação de jogos que apenas quatro da sala eram mulheres e hoje em dia, voltando na mesma escola, o número cresceu bastante e acho que isso aumenta nossa força. Hoje tenho amigas que nunca tinham tido interesse em console jogando no PS4.
Eu acho que nasci gamer, sempre tive a sorte de ter uma família que era mais aberta em relação a brinquedos de menino e menina, então logo cedo tive meu primeiro console que foi um master system e eu ficava o dia inteiro jogando Sonic e a paixão por games permanece até hoje, na cultura, história e diversão – eu não seria a mesma sem os jogos – continua, Jude. Eu acho que as mulheres tem interesse em jogos, mas não foram tão expostas quanto os homens e isso gera um desconforto em algumas que até querem entrar pra esse mundo, sabe? Temos que mostrar que as portas estão abertas.
O que eu gostaria de falar é o seguinte – diz Vi Marchetti, colaborada do Cosmo Nerd – Eu tive sorte de ter um irmão. Enquanto crescia, eu só ganhava bonecas nos meus aniversários mesmo nunca tendo brincado com elas. Mas meu irmão tinha os “brinquedos legais“ e eu pude ter contato com videogames desde cedo por causa disso. Passava tardes jogando Sonic e Mortal Kombat II com ele e logo comprei meus primeiros jogos pra computador. Eu sinto que meu interesse por jogos poderia ter sido diferente sem esse contato inicial. A maioria das meninas que eu conheço não são nerds, mas todas jogam jogos casuais nos seus celulares. Isso me faz pensar que existe o interesse por parte de todo mundo e que se elas tivessem sido expostas a mais jogos – principalmente numa época em que elas tinham mais tempo livre – talvez elas explorassem mais o mundo dos games hoje.
Ser mulher é ganhar ou se esforçar mais do que o normal para ganhar seu namorado no game porque você teve incentivo para jogar futebol quando criança. Diz Gabrielly, do canal Mundo Makempi. Pode parecer brincadeira, mas muita mulher teve sonhos roubados por não ter o sexo adequado.
Eu penso que as mulheres inseridas no mundo gamer passam por dois lados negativos e opostos – ou são julgadas por jogarem mal apenas por serem mulheres – o que é uma falácia – ou são assediadas por serem mulheres que jogam e os nerdinhos querem uma namoradinha que jogam! Diz Amanda, do portal Pão Geekeijo. Eu, particularmente ja sofri as duas partes e já cheguei a mudar meu nick em jogo para nick masculino. Mas parei. Mulher tem que ser respeitada onde vai, e nós merecemos esse espaço que estamos conquistando junto a todos. Não queremos passar por cima de ninguém, queremos respeito e igualdade. Na verdade a gente só quer jogar e fazer pentakill nos joguinhos. Hahahahah.
Já presenciei diversas vezes gente dando discurso de ódio em mulheres, apenas pelo motivo de estarem com nick feminino, diz Mariane Zago. Nunca passei por isso porque os meus sempre são masculinos. Estudos apontam que a gente representa mais que a metade do público gamer e ainda assim existe muito preconceito.
Mulheres já são maioria entre gamers.
No entanto, no dia de hoje, dia de luta e resistência, posso dizer com certo orgulho que já somos maioria no ambiente de jogos, uma pesquisa da Game Brasil 2017, as mulheres já representam 53,6% dos jogadores brasileiros. Dois ano antes, eram 47,1%. Realizada em fevereiro de 2016 pela agência de tecnologia Sioux em parceria com a Blend New Research e a ESPM, o estudo aponta ainda que 34% têm entre 25 e 34 anos, 55% preferem jogos de estratégia e 80% curtem jogar com os filhos. Meninas como Alexia, Jude, Vi, Mayu, Gabrielly, Amanda e Bruna deixaram de ser minoria.
Vi Marchetti comenta sobre os recentes dados – Infelizmente, fora os jogos casuais e mobile o percentual cai bastante. Tem que ter mais mulheres jogando mesmo, mas o número já demonstra o potencial. Interesse existe. A crescente participação do público feminino na comunidade gamer já pode ser notada na BGS – Brasil Game Show , a maior feira de jogos eletrônicos da América Latina. Na última edição, 28% do público eram mulheres, calcula Marcelo Tavares, fundador e CEO da BGS. Até pouco tempo atrás, elas só iam ao evento para fazer companhia aos maridos, filhos e amigos. Hoje, testam novos títulos, disputam torneios virtuais, etc. Estamos cada vez mais conquistando nosso espaço, já existem equipes profissionais de E-sports compostas por mulheres, desenvolvedoras de jogos, sites de review – como a própria Terra Nérdica, que começou com homens, mas hoje já tem a maioria do elenco feminino, estão cada vez mais aceitando e tendo de forma equalitaria mulheres nas suas equipes.
Cosplayers
O crescimento entre gamers é tão marcante que é possível ver também um aumento de cosplayers brasileiras baseadas em personagens femininas, como nossas amigas e colaboradoras Lila e Reah, que inclusive protagonizaram a live de anúncio da Game XP no ano passado. O mundo geek é cruel, muito mais do que parece – diz Lila. Eu já ouvi muita coisa e já entrei em muita briga. Mas se eu gosto de jogar, eu vou jogar SIM. E se eu gosto da personagem, eu vou fazer cosplay sim, independente da opinião de qualquer outra pessoa. Logo eu, dona de mim e da minha felicidade decido eu.
Eu gosto muito de jogar para desestressar e fazer cosplay dos personagens que amo. Complementa Amanda, do Pão Geekeijo. Por isso tudo, quero desejar um ótimo dia para vocês, moças, cinéfilas, jogadoras, leitoras… a luta continua, contudo lembre-se, todas nós já somos Mulheres-Maravilha só por sermos Mulheres.